O risco da instituição financeira nos diversos tipos de investimento
O leitor Luiz pergunta-me como avaliar uma instituição financeira no longo prazo. Afinal, a poupança para a aposentadoria é de longo prazo, e estaremos comprometendo o nosso dinheiro em uma determinada instituição durante muito tempo.
A questão é realmente pertinente. Já vimos grandes bancos ficando pelo meio do caminho ao longo da história, como Bamerindus, Nacional e Econômico. Como garantir que um Bradesco ou um Itaú não terão o mesmo fim daqui a, digamos, 20 anos?
Não há como garantir. A boa notícia é que boa parte das aplicações financeiras disponíveis não depende disso. Comecemos, por exemplo, pelos fundos de investimento. Os fundos são entidades juridicamente independentes dos bancos que fazem a gestão de suas carteiras. Isso quer dizer que, se o banco quebrar, o fundo continua lá, intacto. O que vai mudar é somente o gestor da carteira. A preocupação com os fundos está em saber que títulos fazem parte da carteira. Se na carteira do fundo estiverem títulos ligados ao banco que quebrou, então esta parcela (e somente esta parcela) será afetada.
– Mas como eu faço para saber que títulos estão na carteira do fundo onde eu invisto?
Bem, a instituição que gere a carteira tem obrigação, por lei, de abrir a carteira do fundo periodicamente. No site do banco normalmente consta a carteira dos fundos. Mas você também pode consultar a CVM (aqui), que é o órgão do governo responsável pela supervisão dos fundos. Nesta página, você digita o nome do fundo e tem acesso não somente à sua carteira, mas a outras informações importantes, como a rentabilidade e o regulamento.
Mas você pode fazer sua poupança previdenciária utilizando outros meios que não envolvam instituições financeiras. Por exemplo, através do Tesouro Direto (aqui), você compra títulos do governo diretamente, sem a intermediação de um banco. E você também pode comprar ações diretamente. A Bovespa fez um passo-a-passo para ensinar qualquer um a investir em ações (aqui). Obviamente, comprar títulos diretamente requer um conhecimento do mercado financeiro que pode não ser acessível a todos. Por isso, os fundos de investimento são uma solução mais conveniente nesse caso.
Por fim, o PGBL. Por ser um instrumento típico de poupança para a aposentadoria, o PGBL vem ganhando espaço na carteira de investimentos da classe média. Neste caso, diferentemente dos fundos de investimento, o investidor aplica o seu dinheiro em um plano de aposentadoria. A seguradora responsável por esse plano, então, aplica o dinheiro em um fundo de investimento. Assim, em um PGBL, você está dando o seu dinheiro para uma seguradora, a qual, por sua vez, aplica o seu dinheiro em um fundo de investimento exclusivo. Se a seguradora quebrar, seu dinheiro tem grande chance de ir junto. Neste caso, é importante sim conhecer a solidez da seguradora. A má notícia é que não há como ter certeza de que uma determinada seguradora estará viva daqui a 20 ou 30 anos. Vide o que aconteceu com grandes instituições financeiras nos EUA e Europa durante a última crise.
– Mas então não há como confiar em nada?
Se você conseguir diferenciar confiança de certeza, dá para confiar sim. O mercado financeiro (assim como a vida) não é o lugar das certezas, mas das probabilidades. Cabe ao investidor mitigar a probabilidade de que alguma coisa saia errada, mas certeza você nunca vai ter. E diminuir o risco significa confiar em instituições grandes e sólidas, que têm maior probabilidade de permanecerem aí na praça nas próximas décadas. Nós, pobres mortais, não temos condições de fazer muito mais do que isso para proteger o nosso rico dinheirinho. De qualquer forma, é sempre possível migrar seus recursos de uma instituição para outra, se você desconfiar que algo não vai bem. Mas, para isso, é preciso ficar atento e lembrar-se sempre de que a melhor babá para o seu dinheiro é você mesmo, e não o banco onde você está investindo.
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Por favor, gostaria de um esclarecimento. Se aplico num PGBL ouVGBL e venho a falecer os meus dependentes em 30 diaspoderaosacar o dinheiro, sem a necessidade de inventario. E como fica o caso da aplicaçao no tesouro direto?
Obrigado,
Artur Smania
Artur, as aplicações no Tesouro Direto entram em inventário.