Cartão: use com moderação
O Estadão publica na edição de hoje pesquisa patrocinada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) envolvendo 18.000 consumidores. A pesquisa mostra que 60,2% estão endividados e 27,7% estão com dívidas em atraso. Ou, de outra forma, quase metade dos endividados estão com dívidas em atraso. No entanto, somente 9,2% do total (ou 15% dos endividados) dizem não ter condições de quitarem suas dívidas em janeiro. A reportagem é otimista, com o presidente da CNC, Carlos Thadeu de Freitas, afirmando que ainda há espaço para aumento do endividamento e do consumo.
De fato, o grau de endividamento do brasileiro é menor que em outros países. Comparando-se com outros países (aqui), o crédito no Brasil em relação ao PIB é dos mais baixos: 35% contra quase 200% nos EUA e Japão, 150% em Portugal e 80% no Chile (dados de 2005, considerando crédito para pessoas físicas e jurídicas).
O preocupante não é o grau de endividamento, mas o instrumento utilizado. Na mesma reportagem, ficamos sabendo que 2 em cada 3 endividados usam o cartão de crédito como principal tipo de dívida, seguido em um distante segundo lugar (1/3) pelos carnês. Sabemos que a taxa de juros cobrada pelos cartões situa-se na faixa dos 10%. Ao mês. Para se ter uma idéia do que isso significa, se você não pagasse nada do que deve, a sua dívida dobraria de tamanho a cada 8 meses. Ainda bem que a legislação obriga a pagar pelo menos 15% do valor da fatura a cada mês, o que é apenas suficiente para abater uma pequena parcela da dívida, pois a parte do leão fica com o banco. Essa é das dívidas mais caras que existem, ao lado do cheque especial.
Então, vejamos: 60% dos cidadãos estão endividados e, destes, 2 em cada 3 têm dívidas no cartão de crédito. Portanto, 40% dos consumidores brasileiros estão pendurados no cartão. Há três hipóteses para um indivíduo não pagar o total da fatura do cartão de crédito (ou entrar no cheque especial):
1) Uma despesa inesperada e que não vai se repetir nos próximos meses;
2) Um descontrole crônico das finanças (ou, em outras palavras, gastos maiores que as receitas);
3) Ignorância com relação ao custo desta dívida.
Normalmente ocorre uma combinação de 2) e 3). Há um buraco no orçamento, que não é coberto por alternativas mais baratas, como crédito pessoal. A alternativa 1) é a mais saudável, pois em tese as finanças se arrumam em alguns meses.
Qual o conselho aqui? FUJA! Cartão de crédito e cheque especial são como mar: você vai entrando, vai entrando, e sempre acha que vai conseguir sair. No entanto, chega uma hora que não dá mais para voltar, e o afogamento é inevitável. Desculpem-me a analogia pouco agradável, mas é assim que funciona.
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