Nem sempre vender ações na baixa é um mau negócio
A bolsa chegou a cair mais de 20% neste mês de agosto. Onze em cada dez analistas recomendaram não vender as ações, no que fizeram muito bem. A esta altura, a bolsa já se recuperou cerca de 10%. E agora?
Marcia, uma leitora do blog, fez-me esta pergunta. Sua situação é a seguinte: ela tem Petrobrás em um fundo FGTS desde o ano 2000. Há alguns meses, ela comprou um apartamento, e vai quitá-lo com o dinheiro do FGTS daqui a um ano e meio. Atualmente, mesmo depois da queda da bolsa, ela tem um pouco mais do que o necessário no FGTS para quitar o apartamento. Pergunta: ela deve transferir estes recursos de volta para o FGTS, e aceitar um rendimento de TR + 3% ao ano?
A resposta é um sonoro SIM. Na verdade, ela já deveria ter feito isso antes, assim que fechou a compra do apartamento, mas nunca é tarde para tomar uma decisão inteligente de investimentos. E esta é uma decisão inteligente por um conjunto de motivos:
1) Estes recursos já estão compromissados. Se faltar dinheiro no dia da quitação, a nossa investidora terá que complementar do seu próprio bolso. Não haverá a alternativa de “esperar mais um pouco para ver se a bolsa se recupera”. Investimento em ações não pode ter hora marcada para ser resgatado.
2) Marcia tem Petrobrás desde o ano 2000. Desde então, o retorno foi de aproximadamente 17% ao ano, mesmo com as quedas recentes. Portanto, bem acima da TR + 3% ao ano que teria rendido no FGTS. Não dá para reclamar, não é mesmo? (Observação: esta rentabilidade foi obtida no site Com Dinheiro, muito boa fonte de consulta).
3) Imagine o contrário: você tem o seu dinheiro no FGTS, rendendo TR + 3% ao ano, e lhe é oferecida a oportunidade de migrar uma parcela para Petrobrás. Você migraria, sabendo que tem um compromisso para quitar daqui a um ano e meio? Provavelmente não. Então, porque não fazer o contrário, ou seja, migrar das ações para a renda fixa?
4) Marcia não estava dormindo à noite, o que mostra que a sua tolerância a risco é baixa. Isso não significa que ela não deveria ter migrado para Petrobrás lá no ano 2000. Significa, simplesmente, que ela não está disposta a apostar o dinheiro da quitação do apartamento na bolsa.
Não vender ações na baixa é um conselho genérico, que não serve para nada se não for acompanhado de uma análise mais precisa do objetivo para aquele recurso. Às vezes, uma baixa serve de alerta para uma determinada incompatibilidade entre o risco do investimento e os objetivos do investidor. No caso da Marcia, o dinheiro já tem destino certo para daqui a um ano e meio. Mesmo que as ações da Petrobrás voltem a se valorizar, a Marcia não deveria se preocupar com o isso. Nada paga a tranquilidade de saber que você terá o dinheiro suficiente para quitar um compromisso de grande porte no futuro.
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