COE – Certificado de Operações Estruturadas
Kahneman e Tversky ganharam o prêmio Nobel de Economia em 2002, com um trabalho intitulado Prospect Theory, seminal para as Finanças Comportamentais. Resumidamente, a Prospect Theory afirma que a resposta das pessoas aos problemas varia de acordo com a forma como esse problema é colocado. Assim, por exemplo, se uma pesquisa pergunta se vale a pena investir em uma vacina que salva 300 vidas em 1.000, e outra em que a pergunta é se vale a pena investir em uma vacina em que 700 pessoas morrem a cada 1.000, a primeira pergunta recebe muito mais apoios do que a segunda, apesar de refletirem rigorosamente o mesmo fato.
Vamos testar a Prospect Theory com você. Escolha entre estes dois investimentos:
Investimento 1: você pode participar da alta da bolsa, sem ter o risco de rentabilidade negativa.
Investimento 2: você abre mão da rentabilidade do CDI, mas também não participa de toda a alta da bolsa.
A maioria das pessoas escolheria o investimento 1 e recusaria o investimento 2, apesar de se tratar rigorosamente da mesma coisa. Estamos falando dos chamados investimentos estruturados, em que, com o uso de opções, modificam-se os retornos do investimento dadas certas condições.
Vejamos um exemplo concreto. Em 20/08/2014, o Santander lançou um Fundo chamado Santander Estruturado Bolsa Europeia Multimercado. O investidor deste fundo receberia, após 12 meses, o patrimônio inicial investido (menos custos) ou 193% do índice Euro Stoxx 50, limitado a 21,2%, o que for maior. Neste dia, um título público com um ano de prazo estava pagando 11,2% ao ano. Poderíamos, então, reescrever o teste acima da seguinte forma:
Investimento 1: você toparia participar da alta da bolsa europeia, sem correr o risco de rentabilidade negativa?
Investimento 2: você abriria mão de uma rentabilidade de 11,2% em um ano, mas não participa de toda a alta da bolsa europeia, se esta bolsa subir muito.
Para fugir da armadilha da Prospect Theory, vamos desenhar um gráfico de lucros e perdas dessa operação. No gráfico a seguir, mostramos a rentabilidade do investidor, dependendo da rentabilidade do índice Euro Stoxx 50:
Observando-se o gráfico, concluímos que seria melhor aplicar diretamente no Euro Stoxx 50 se a sua rentabilidade fosse maior que 21%, e seria melhor aplicar no título público se a rentabilidade do Euro Stoxx 50 fosse menor que 6%. Qualquer rentabilidade do Euro Stoxx 50 entre estes dois valores (6% e 21%), o melhor seria aplicar no Fundo de Capital Protegido.
Com esta descrição, fugimos dos argumentos de vendas que normalmente acompanham estes produtos. A depender do cenário do investidor, vale a pena investir neste Fundo, ou na bolsa europeia ou ficar na segurança do CDI.
Por que entramos neste assunto? Dentro em pouco, uma nova sigla será adicionada à sopa de letras que faz o nosso mercado financeiro. Trata-se do COE – Certificado de Operações Estruturadas. O COE, que antes estava restrito a ofertas individuais, acabou de receber sinal verde da CVM para ser oferecido ao público em geral. O COE nada mais é do que uma outra roupagem para os velhos Fundos de Proteção de Principal, como o que vimos acima.
Ao analisar um COE, desenhe o gráfico de ganhos e perdas, a exemplo do que fizemos acima. Desta forma, você conseguirá entender melhor onde está investindo, e poderá tomar uma decisão de investimento mais bem informada, sem deixar-se influenciar por slogans de venda.
Ótimo artigo!