A hora “certa” de entrar na bolsa
Todo mundo sabe que, para ter sucesso na bolsa, é preciso “comprar na baixa e vender na alta”. Com essa receita, qualquer um se dá bem. Basta então identificar corretamente a baixa e a alta da bolsa. Simples? Longe disso.
Júlio Pinheiro, leitor do blog, envia-me um estudo muito interessante (que ele produziu em seu MBA), onde são comparados os desempenhos de 61 fundos de ações nos anos de 2008 e 2009. Lembremos que estes dois anos foram muito “ricos” em oportunidades de compra e venda de bolsa: em 2008 a bolsa caiu 41%, enquanto em 2009 subiu 83%. Uma verdadeira festa para aqueles que acreditam que podem “se dar bem” na bolsa acertando o momento de entrar e sair.
Júlio mede o desempenho desses fundos de duas formas: pela variação das suas cotas e pela Taxa Interna de Retorno (TIR). Sem entrar em tecnicalidades, basta saber que a primeira forma (cota) mede o desempenho do fundo gerado pelo gestor da carteira de ações, enquanto a segunda forma (TIR) mede o desempenho dos cotistas do fundo.
– Ué, não entendi. Não é a mesma coisa?
Não é não. Imagine que você é cotista de um fundo de ações. Esse fundo cai 10% e você, apavorado, resgata. Depois de você resgatar, o fundo recupera os 10% perdidos. Qual foi a rentabilidade do fundo, gerado pelo gestor da carteira e medido pela cota? Zero (perdeu 10% e depois recuperou 10%). E qual foi a sua rentabilidade? Você perdeu 10%, pois quando o fundo recuperou-se, você não estava nele para reaver o seu dinheiro… Pois é, comprou na alta e vendeu na baixa. Essa perda de 10% é medida pela TIR.
Pois bem, o Júlio calculou a rentabilidade de 61 fundos pela cota e pela TIR, em 2008 e 2009, e descobriu que, para 70% dos fundos, a rentabilidade pela cota era maior do que pela TIR. Ou seja, em 70% dos casos os investidores tomaram uma decisão ruim de investimento, comprando na alta e vendendo na baixa. Isso é mais comum do que se supõe: investidores estão sujeitos a sentimentos como medo, ganância e comportamento de manada, que distorcem o seu julgamento, e os fazem tomar decisões incorretas.
– Ah, mas 30% acertaram, o que mostra que é possível entrar no momento “certo” na bolsa.
Em qualquer experimento ligado a finanças, o valor esperado para um evento aleatório é de 50%. Se 50% dos fundos tivessem apresentado rentabilidade pela cota maior do que pela TIR, poderíamos dizer que os investidores não apresentaram viés de nenhuma espécie em suas decisões, e o momento de entrar e sair da bolsa é tão aleatório quanto jogar uma moeda. O que já seria em si ruim para aqueles que defendem a entrada na bolsa no momento “certo”. Mas o experimento levado a cabo pelo Júlio mostra algo ainda pior: os investidores não se comportam de modo aleatório. Eles se deixam levar pelas emoções, e PERDEM dinheiro sistematicamente tentando acertar o momento “certo” de entrar e sair da bolsa.
Por isso, volto ao ponto de meu post “Este é o momento de aplicar na bolsa?“: não tente acertar o momento “certo”. Bolsa é um investimento de longo prazo, e qualquer momento é momento para este horizonte. Aplique um pouco a cada mês, e esqueça.
Crédito do thumbnail: Free Digital Photos by Feelart.
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