Viciado em dívidas
Em meio à crise gerada pelo rebaixamento da dívida norte-americana pela S&P, chamou a atenção o “puxão de orelhas” do governo chinês no americano: os EUA devem curar o seu vício em dívidas (U.S. Debt: China Tells America To Tighten Its Belt, Deal With ‘Debt Addiction’)
As dívidas, como grande parte das coisas da vida, não são boas ou más em si. O problema é o uso que fazemos delas. As dívidas servem para trazer para hoje um bem a que teríamos acesso somente amanhã. A dívida é o preço da nossa impaciência.
Em alguns casos, a impaciência se justifica. Por exemplo, no caso de imóveis. O preço de um imóvel, normalmente, representa muitos anos da renda de qualquer trabalhador. Assim, é natural que usemos o crédito para adquirir um imóvel. Neste caso, as prestações competem com o que se pagaria em aluguel, pois é preciso morar em algum lugar. Pode-se escolher um imóvel mais modesto, mas não há a hipótese de não ter onde morar.
O mesmo raciocínio pode ser feito para outros bens. Usamos o crédito para trazer de amanhã para hoje os bens que julgamos indispensáveis, e para os quais a nossa poupança atual não é suficiente. Alguém nos empresta o dinheiro, e usamos a nossa poupança futura para pagar o empréstimo. Com um certo custo, é claro.
Os problemas começam quando começamos a viver acima de nossas possibilidades, lastreando o nosso estilo de vida no crédito. Isso significa que as dívidas são maiores do que o que conseguimos poupar. A matemática é cruel. Digamos que você consegue poupar R$ 10.000 por ano. Se você se comprometer com prestações de R$ 10.001 por ano, você quebra. Simples assim.
Acontece que as pessoas são seduzidas pelo consumo. Crêem que têm muitas necessidades, e se endividam para obtê-las. Exatamente o mesmo ocorre com os países. Hoje, estamos assistindo ao resultado de um crescimento econômico artificial, lastreado em dívidas excessivas. O que se fez foi comprometer a poupança futura com o bem-estar presente. Chegaria o dia, e pelo visto já chegou, em que os credores começariam a se perguntar se veriam o seu dinheiro de volta algum dia.
E o que vemos agora? A tentativa desesperada de manter o crescimento econômico a qualquer custo. Os países, assim como as pessoas, simplesmente não se conformam em viver de acordo com as suas possibilidades.
O segredo de uma vida financeiramente tranquila é conhecer e respeitar os seus limites. Perguntar-se, a cada necessidade que se apresenta, se realmente você precisa daquilo. Ou se precisa daquilo agora. Esperar, normalmente, faz a pessoa ponderar melhor sobre as suas reais necessidades. Isso não é conformismo. É sabedoria.
Crédito do thumbnail: Free Digital Photos by Stuart Miles.
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