Bolha de crédito: você faz parte dela?
Começaram a pipocar, na imprensa internacional, matérias sobre uma suposta “bolha de crédito” na economia brasileira. Você pode ler no Financial Times, no Wall Street Journal e na The Economist. Nesta última há um gráfico interessante, mostrando um ranking de economias emergentes segundo o grau de “sobre-aquecimento”. Um dos seis itens levados em consideração pela revista para montar o ranking é a oferta de crédito: quanto cresceu o crédito nos últimos 12 meses, comparado ao crescimento do PIB no mesmo período. Neste ranking, o Brasil está em terceiro lugar, em uma lista de 27 países.
Há um certo exagero nestas análises. O crescimento da oferta de crédito se dá sobre uma base pequena. A penetração do crédito na economia ainda é baixa se comparada a outros países, principalmente os desenvolvidos, conforme podemos ver no gráfico a seguir (as barras amarelas indicam a média mundial e o Brasil):
Estes números, no entanto, referem-se ao total de crédito na economia, o que inclui empréstimos a empresas, BNDES, crédito agrícola, etc. O que nos interessa mais de perto é o crédito tomado pelas famílias, e qual o comprometimento da renda com o pagamento de prestações, incluindo capital e, principalmente, juros. Segundo estudo da LCA Consultores (reportagem aqui), o endividamento total do brasileiro atingiu 40% de sua renda em abril, contra 35% no início de 2010. E o que é pior: neste ano, este aumento tem ocorrido basicamente pelo aumento dos juros que incidem sobre o saldo devedor, e não por novos empréstimos. Cada vez mais o brasileiro lança mão do cheque especial e do crédito rotativo do cartão de crédito para “rolar” suas dívidas, o que aumenta os juros médios pagos.
Não acredito em uma bolha de crédito, no sentido dos bancos estarem concedendo crédito irresponsavelmente a pessoas sem as mínimas condições de pagarem os empréstimos, o que poderia causar uma quebradeira no sistema financeiro. Mas sim, há famílias que estão perdendo o controle sobre suas finanças. Se você tem dúvida de que lado da bolha você está, verifique se você tem usado o cheque especial recorrentemente; se você não consegue pagar o total da fatura do seu cartão de crédito; se o comprometimento de sua renda com dívidas tem crescido nos últimos meses, mesmo sem ter iniciado um financiamento novo. Se você apresenta um ou mais desses sintomas, acorde: seu futuro financeiro é negro.
E como voltar a ter uma vida financeira mais saudável? Simples: pagando suas dívidas. Ok, eu sei que não é nada simples. Mas é preciso fazê-lo. Em primeiro lugar, vendendo patrimônio (carro, casa). Em segundo lugar, procurando trocar suas dívidas de curtíssimo prazo e caras (como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito) por outras mais longas e mais baratas (como o crédito pessoal). Em terceiro lugar, renegociando suas dívidas, mostrando aos credores a sua situação e como ambos (você e o credor) podem trabalhar para atingir um objetivo comum: o pagamento da dívida.
O melhor mesmo é não deixar que as coisas cheguem a este ponto. Procure viver dentro de suas possibilidades, monte um orçamento realista, mantenha uma reserva para imprevistos, deixe-se levar pelo consumismo somente até o limite de seu orçamento. E durma tranquilo.
Crédito do thumbnail: Free Digital Photos by Stuart Miles.
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