Risco: uma questão relativa
O que é risco?
Definir risco formalmente pode ser difícil, mas todo mundo sabe o que ele é. Quando perdemos dinheiro em algum investimento, dizemos: “não deveria ter corrido esse risco”. Ou quando vemos que o histórico de um determinado investimento envolve muitas perdas, dizemos: “este investimento é muito arriscado”. Temos então que risco é sinônimo de perder algo. Ou melhor, a possibilidade de perder algo. No caso de investimentos, perder dinheiro. Mas há muitas formas de perder dinheiro.
– Eu que o diga, Professor Money. Sou o maior pé frio. Quando entro na bolsa, é sinal certo de que vai começar a cair…
Não é a isso que eu me refiro. Perder dinheiro, como diria meu amigo Einstein, é sempre relativo.
– Como assim, “relativo”, Dr. Money? Perder dinheiro é perder dinheiro, ora essa…
Não, meu caro. É preciso entender o seu objetivo ao entrar em um determinado investimento. Este é o seu referencial. Não atingir o objetivo significa perder dinheiro. Assim, um mesmo investimento pode ser ganhador para um investidor e perdedor para outro, rendendo exatamente a mesma coisa para os dois. Quer um exemplo?
Digamos que o seu objetivo seja fazer uma reserva de emergência. Você deveria aplicar em um fundo DI, ou na Caderneta de Poupança. Caso você aplique na bolsa, e a bolsa cair justamente quando a emergência chegou, você perdeu dinheiro. Agora vamos considerar o caso de um sujeito que esteja fazendo uma poupança para a aposentadoria. Aplicar na caderneta de poupança é perder dinheiro na certa. Daqui a 30 anos, o nosso amigo não terá dinheiro suficiente para viver uma vida digna. Este é um baita risco. Nesse sentido, para esse objetivo, aplicar na bolsa é menos arriscado do que na Poupança. Aplicando na bolsa, você estará diminuindo o risco de não ter uma poupança previdenciária suficiente lá na frente.
Outro exemplo? Seguros. Do ponto de vista estritamente financeiro, comprar um seguro é jogar dinheiro fora, se não ocorre o sinistro. Na verdade, quando você compra um seguro, você está transferindo o risco da perda patrimonial para a seguradora. Para isso, você paga um prêmio. Se o risco não se materializa, você transferiu o risco à toa. Claro, você só sabe isso depois que aconteceu. Mas, efetivamente, teria economizado esse dinheiro se você soubesse que não haveria acidente. Portanto, a probabilidade de “perder” dinheiro nessa aposta com a seguradora é enorme. Mas sabemos que este não é o raciocínio que a maioria das pessoas sensatas faz. A maior parte das pessoas sabe que está transferindo o risco de ter uma perda ainda maior para um outro agente, em troca de um perda certa agora (o prêmio do seguro). Este é o objetivo, e esta “perda” não é, de forma alguma, considerada como tal.
Um terceiro exemplo: investimentos prefixados. Se você tem um determinado compromisso financeiro daqui a, digamos, 3 anos, e gostaria de travar o seu retorno para exatamente este período, você deveria aplicar em um título prefixado que vence neste prazo. Mas, atenção! Se outro investidor precisar do dinheiro antes, o montante que ele vai receber é uma incógnita. Isso porque o valor de um título prefixado é fixo somente no vencimento. Durante a vida do título o seu valor oscila, tanto para cima quanto para baixo. Em um próximo post, vou explicar direitinho como isso funciona, mas por ora basta saber que o valor de um título prefixado não vai só para o alto e avante. Portanto, se este outro investidor precisar do dinheiro antes do vencimento, pode perder dinheiro. Esse é o risco. Assim, um mesmo investimento pode ser arriscado para um e sem risco para outro, dependendo do seu objetivo.
Concluindo: a rigor, não existe investimento mais ou menos arriscado. O que existe é investimento mais ou menos adequado ao objetivo do investidor. Entrar em um investimento não adequado ao seu objetivo é a receita certa para perder dinheiro. Mesmo em se tratando de um investimento dito “conservador”.
Crédito do thumbnail: Free Digital Photos by Stuart Miles.
Muito bom este raciocínio. Esta forma de pensar tira uma carga enorme na hora da tomada de decisão.