Risco de crédito: como usar
Artigo de minha autoria originalmente publicado no Valor Econômico, seção Palavra do Gestor, 14/07/11
Com a queda das taxas de juros, a bolsa de lado há três anos e os fundos multimercados decepcionando, os investidores buscam alternativas para recuperar a rentabilidade perdida.
O risco de crédito é a nova onda: sem volatilidade, os títulos de crédito privado ofertam retornos bastante interessantes ao longo do tempo. No site www.debenture.com.br, encontramos facilmente papéis classificados como grau de investimento pagando 115% do CDI. Temos também Letras Financeiras (papéis de longo prazo) com remuneração facilmente acima de 110% do CDI, além do cada vez mais ativo mercado de FIDCs.
Tudo isso é muito bom, mas o risco de crédito deve ser corretamente entendido pelo investidor. A falta de volatilidade não implica ausência de risco. O risco do investimento em bolsa ou em títulos prefixados pode ser comparado a uma doença crônica, que deve ser tratada diariamente. Já o risco de crédito se parece mais com uma doença cardíaca, que aparece sem prévio aviso. Ambos os tipos devem ser prevenidos e tratados, mas normalmente a doença cardíaca pega o indivíduo de surpresa. O risco estava lá o tempo inteiro, mas a sua manifestação pode ser bastante traumática.
Agora, não é porque há o risco de um ataque do coração que vamos deixar de aproveitar a vida. É possível ter risco de crédito, desde que tomadas algumas precauções básicas.
Em primeiro lugar, é preciso conhecer os títulos de crédito que o seu fundo de investimento possui. Mesmo os fundos DI, hoje em dia, carregam uma parcela significativa de títulos privados. Para tanto, o site da CVM é uma boa fonte[1] dado que os administradores de fundos não costumam colocar a lista completa dos títulos nos seus materiais.
Outro ponto muito importante é entender a relação do administrador/gestor com o coordenador das emissões dos títulos da carteira. Todas as debêntures, para serem distribuídas publicamente, necessitam de uma instituição financeira que faça a coordenação dessa emissão. Esse coordenador tem a função, entre outras, de vender a emissão para os participantes do mercado. Suponhamos, por exemplo, que o banco A seja o coordenador da emissão da debênture X e busque interessados em comprar o papel entre fundos de investimento, fundos de pensão e investidores institucionais de maneira geral. Ocorre que, normalmente, o banco A é também administrador de fundos que podem ser potenciais compradores da debênture X. De fato, não há nada de mais em um fundo administrado pelo banco A comprar uma debênture vendida pelo banco A. Mas só se for no melhor interesse dos investidores do fundo, e não porque essa debênture não encontrou receptividade entre outros investidores do mercado.
Outro cuidado é verificar se os títulos estão sendo corretamente apreçados na carteira do fundo. Digamos, por exemplo, que as taxas dos CDBs estejam subindo. Nesse caso, a carteira de crédito do seu fundo deveria estar sofrendo pelo efeito da chamada “marcação a mercado”: se você compra hoje um título que paga 110% do CDI, e amanhã ele começa a ser negociado a 120% do CDI, não há dúvida de que você perdeu dinheiro. Afinal, se esperasse mais um dia, obteria 120% do CDI, e não os 110% do dia anterior. Com a remuneração subindo, os títulos deveriam se desvalorizar (ou valorizar menos que o CDI) e essa “perda” deveria ser reconhecida no preço do papel e, consequentemente, na oscilação do valor da cota do fundo.
Caso desconfie de que o administrador não está precificando corretamente os ativos, resgate desse fundo e aplique em outro cuja rentabilidade tenha sofrido com a marcação. Nesse caso, por mais ilógico que pareça, o menos é mais.
Por fim, é preciso ficar atento ao risco de liquidez inerente aos fundos que possuem uma parcela significativa em títulos de crédito. A CVM exige que a expressão “Crédito Privado” conste do nome de todos os fundos que ultrapassem 50% da carteira nesses títulos. Isso foi exigido justamente para alertar o investidor sobre o risco de não haver liquidez caso haja resgates significativos, uma vez que o mercado secundário para títulos de crédito é bastante limitado, sendo muito difícil vendê-los.
À medida que o mercado de capitais brasileiro for se desenvolvendo, o investimento em crédito será cada vez mais comum. Fugir de certo tipo de investimento somente pelos riscos envolvidos não parece ser uma decisão sábia. O correto é entender os riscos, procurar otimizá-los da melhor forma possível e conviver com aqueles que não são passíveis de eliminação.
[1] Veja como fazer esta pesquisa no post Como identificar o risco de crédito que o seu fundo está correndo
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Na verdade, minha dissertação de mestrado mostra como fundos que rendem mais EM RELAÇÃO A OUTROS FUNDOS, captam mais. Não entro no mérito se estes fundos rendem mais ou menos que o índice. Mas grande parte desses fundos renderam mais que o índice no período considerado (2003-2008).
Com relação ao investimento em fundos passivos em relação aos fundos ativos: Jensen, em 1968, publicou um artigo mostrando que os fundos americanos de ações, NA MÉDIA, rendiam menos que o S&P500, quando ajustados pelo risco. Como é uma média, um pouco menos da metade rendia mais, e um pouco mais da metade rendia menos. Portanto, não é difícil encontrar fundos que renderam mais que o índice. O difícil mesmo é acertar QUAL fundo vai render mais que o índice no futuro. A rentabilidade passada, assim como os belos olhos do gestor, não dizem nada sobre a rentabilidade futura. Assim, é quase uma loteria acertar em qual fundo investir. Por isso, muitos preferem o fundo passivo, para não correr o risco de montar no cavalo errado.
Abraço!
eu acho muito complicado as pessoas que realmente entendem sobre fundos, de investirem em fundos. o que voce acha? por que nao iria colocar em um fundo de indice como o bova11? se puder, gostaria que comentasse sobre isso. vi que sua tese de mestrado foi em cima da rentabilidade dos fundos…mas quais deles renderam mais que a bovespa? tirando a taxa de administracao, claro.