O problema de “investir certo”
Já contam-se às centenas as consultas que recebi aqui no blog sobre “o melhor investimento”. Estas consultas variam muito na forma: vão desde genéricos “onde eu deveria investir?” até descrições detalhadas sobre as aplicações que o investidor tem hoje, e o que deveria fazer, ou se aquilo que o gerente do banco está oferecendo é “uma boa”.
A grande questão é que investir envolve incerteza. Esta incerteza está sempre lá, mesmo nos investimentos mais conservadores, pois um investimento conservador pode render menos que outro mais agressivo, e, depois que isso acontece, o investidor pode se arrepender de não ter arriscado mais.
Investir tem muito da dinâmica da própria vida. Estamos sempre investindo em coisas que não têm nada a ver com o mercado financeiro. Investimos, em primeiro lugar, o nosso tempo. E é sempre incerto se o tempo que investimos em nossos projetos dará algum retorno. Investimentos tempo na nossa formação, na educação dos filhos, no lazer. Em cada momento, poderíamos estar investindo o tempo em outra coisa mais produtiva ou mais prazerosa. Esta decisão, a cada momento, moldará o nosso futuro. Estamos o tempo inteiro plantando o futuro. E nunca saberemos o que teria sido a nossa vida se tivéssemos investido o tempo em outra coisa. Podemos desconfiar, elocubrar, mas jamais teremos certeza.
Como dizia, o tempo inteiro tomamos decisões que moldam o nosso futuro. A carreira, a família são as principais, mas há muitas, muitas outras. Desde o tipo de comida que decidimos comer, até o que fazemos nos momentos de lazer. O resultado desses decisões é sempre incerto. E o que é pior: muitas dessas decisões são tomadas de maneira inconsciente, sem que atinemos para as suas consequências.
Quando tratamos de investimentos, não é muito diferente: queremos acertar, queremos o investimento que “rende mais”, mas o futuro é incerto. Não sabemos se, ao investir na bolsa hoje, vamos ganhar ou perder dinheiro. E se vamos ganhar ou perder dinheiro amanhã ou daqui a 10 anos. E mais: mesmo não perdendo dinheiro, não sabemos se a bolsa vai render mais ou menos que outras alternativas disponíveis hoje.
Por isso, é preciso entender o que significa “investir certo”:
– Esqueça a ideia de que você vai conseguir “adivinhar” o futuro. E esqueça também a ideia de que alguém, no mundo, vai te dar o futuro de bandeja, cobrando uma pequena taxa. Se houvesse alguém que conhecesse o futuro, este alguém seria o Rei do Universo, e não estaria vendendo o seu conhecimento por alguns reais. Parece óbvio, mas muitos vivem na ilusão de que alguém vai orientá-lo a fazer o “investimento certo”.
– Investir é muito mais sobre você do que sobre o mercado. São suas necessidades e características que fazem um investimento mais adequado do que outro. O mercado é, por natureza, imprevisível. Como dissemos acima, quem realmente soubesse o que vai acontecer com o mercado, não venderia este conhecimento. Mas você é você, e só você pode conhecer-se a si mesmo.
– Tenha uma visão “holográfica” dos seus investimentos. Inclua o imóvel onde você mora. O seu FGTS. O fundo de pensão da sua empresa. A sua empresa. O seu consultório ou escritório. Tudo isso é investimento, e se tornará líquido e acessível mais cedo ou mais tarde. Na verdade, aquela partezinha do seu dinheiro sobre a qual você decide vai determinar muito pouco sobre a riqueza que você terá no futuro. E a decisão de investimento sobre esta partezinha deve estar coordenada com todo o resto. Por exemplo, há pessoas que mantém seus investimentos em alternativas conservadoras, ao mesmo tempo que possuem uma montanha de dinheiro no FGTS, que é também uma alternativa de investimento conservadora. Faz sentido?
– Estabeleça um horizonte e seja fiel a ele. Se você está investindo para a sua aposentadoria, que vai acontecer daqui a 25 anos, por que raios você precisa checar o investimento diariamente ou mesmo mensalmente? E, pior: por que sofrer por conta disso, se você não vai precisar deste dinheiro antes de 25 anos? Lembre-se: só perde quem resgata. Enquanto você não resgatar, você continua no “game”. Por outro lado, JAMAIS invista de maneira arriscada no curto prazo. Isso não é investimento, é cassino.
Portanto, antes de perguntar sobre o “investimento certo”, faça a sua lição de casa: defina seu objetivo do investimento, sua aversão ao risco, seu horizonte de investimento, sua situação tributária e patrimonial. Convença-se de que investir requer muito mais do que seguir a “dica” de um guru ou, o que é pior, do gerente do seu banco. Como você certamente deve ter aprendido em sua vida profissional, o sucesso depende de esforço e sorte. 99% do primeiro e 1% do segundo. E não é diferente quando o assunto é investimento.
Ótimo artigo!! É primordial definir os objetivos e mais importante do que valor e modalidade de investimento no início, é manter a regularidade dos aportes.
Um grande abraço.
Excelente postagem, estava para escrever sobre isso nessa semana! []s!
Belo Post Dr. Money !! eu ainda acrescentaria um “Começe Pequeno e vá aumentando aos poucos!”
Abraços