Bitcoin: investimento ou cassino?
A última moda, que vem chamando a atenção daqueles que estão em busca de altos retornos, é o investimento em criptomoedas, das quais, a mais conhecida, é o Bitcoin. Veremos, neste artigo, o que é uma criptomoeda, como funciona este mercado, e quais os riscos que você corre ao investir nesse tipo de ativo.
Não é objetivo deste artigo explicar como funciona uma criptomoeda, mesmo porque trata-se de computação avançada, e foge ao nosso escopo. O que podemos dizer é que a criptomoeda é uma moeda virtual decentralizada.
Ser virtual não é propriamente uma novidade. Na verdade, praticamente toda a moeda em circulação atualmente é virtual. Pouco do que transacionamos no dia a dia se faz através de notas e moedas. A grande novidade da criptomoeda é o fato de ser decentralizada. Ou seja, não há um Banco Central que emite a moeda. A criptomoeda é criada por “mineiros”, que conseguem encontrar certas combinações de códigos que são aceitos pelo sistema, em uma atividade chamada de “mineração”. É também decentralizada no sentido de que a moeda não é armazenada em um sistema central, por exemplo, em uma conta em um banco. O “dinheiro” está espalhado pelo sistema, sendo que a garantia da “existência” desse dinheiro não se baseia na confiança depositada em um agente central, mas sim na comunidade como um todo.
Bem, isso é tudo o que vou falar sobre as criptomoedas. Mais do que isso, eu mesmo não entendo. De agora em diante, vamos nos concentrar naquilo que interessa: vale a pena investir em criptomoedas?
Quem lê este blog desde o seu início, sabe qual a minha opinião sobre realizar investimentos sem uma análise detalhada de todo o portfólio do investidor e, principalmente, seus objetivos para o investimento. Portanto, vamos considerar que o investimento em criptomoedas tenha como objetivo a acumulação de poupança para o longo prazo, tipicamente para a aposentadoria, ou para o financiamento dos estudos superiores de filhos hoje pequenos. Qualquer outro objetivo é claramente inadequado, como veremos a seguir. A não ser que você queira jogar no cassino, mas esta não é minha praia.
Todas as estatísticas e números da indústria de criptomoedas mencionadas neste artigo foram obtidas no site Coin Dance.
As criptomoedas somam hoje, no conjunto, um valor de mercado global de US$ 175 bilhões (número do final de setembro). Para termos uma ideia, a bolsa brasileira tem valor de mercado de US$ 967 bilhões, ou seja, mais de 5 vezes o tamanho do mercado global de criptomoedas. E não que o mercado brasileiro de ações seja uma potência global. É um mercado bastante pequeno, comparado com as bolsas no mundo desenvolvido. Portanto, o mercado de criptomoedas ainda é irrelevante no contexto global. Claro, há que se considerar que os mercados acionários existem há mais de 100 anos (aqui no Brasil há mais de 50 anos), enquanto o mercado de criptomoedas mal existia há dois anos. De qualquer forma, para o que nos interessa analisar aqui, ainda trata-se de um mercado muito pequeno.
Outra forma de medir o tamanho do mercado é a sua liquidez. E esta característica é particularmente importante para quem quer investir em qualquer ativo. Podemos ver, no gráfico abaixo, que o volume negociado do Bitcoin vem crescendo, mas ainda está em patamar bastante baixo, totalizando algo em torno de US$ 50 milhões/semana ou US$ 200 milhões/mês. Para se ter uma ideia, este é aproximadamente o giro do mercado de fundos imobiliários no Brasil. E sabemos que este mercado de fundos imobiliários tem liquidez bastante restrita. Ou seja, um cuidado adicional para o investidor em Bitcoin é saber que, quando precisar vender o seu ativo, pode eventualmente não encontrar comprador.
Agora, vamos ao que realmente importa: o Bitcoin (ou qualquer outra criptomoeda) é um ativo que vale a pena ser considerado em uma carteira de investimento?
Em primeiro lugar, será útil entender a natureza do Bitcoin. Trata-se de uma moeda, no sentido de ser potencialmente um meio de pagamento (ainda que, até o momento, esta função é mais um desejo do que uma realidade). E, como qualquer moeda, o Bitcoin tem também a função de reserva de valor. Ou seja, as pessoas entesouram o Bitcoin como uma forma de poupança. Para os investidores, esta é a função que interessa.
Quando tratamos de outras moedas (dólar, real, etc), simplesmente ficar com a moeda no bolso não faz sentido (ainda que, no Brasil, muitos guardem as verdinhas em casa). Isto porque é possível comprar títulos denominados na moeda desejada, e ganhar taxas de juros além da variação cambial. Obviamente, isto ainda não é possível com as criptomoedas. Portanto, o que o investidor que compra esta moeda busca é simplesmente a sua valorização.
Quando um investidor compra um ativo pensando em sua valorização, precisa estar atento a dois aspectos. O primeiro e principal são os fundamentos do ativo. O segundo, mais importante para movimentos de curto prazo, é o fluxo de recursos na compra e na venda do ativo. Em tese, o fluxo depende do fundamento: se o ativo for considerado barato, o fluxo de compra deve ser maior que o de venda, e vice-versa. No entanto, sabemos que nem sempre é assim. Às vezes o fluxo cria o seu próprio fluxo. E as bolhas estão aí para provar.
Vejamos então, em primeiro lugar, o fundamento dos preços do Bitcoin. Quais os fundamentos do preço de uma moeda? Quando se trata da moeda de um país, os fundamentos vão desde os fluxos do balanço de comércio, passando pelos níveis relativos de inflação e taxas de juros, até a situação política do país que emite a moeda. Alguém já disse que a moeda foi inventada por Deus para manter a humildade dos economistas, tamanha a quantidade de variáveis envolvidas na determinação de seu preço, o que torna a previsão da taxa de câmbio uma das mais difíceis, senão a mais difícil, tarefa dos analistas.
E o que dizer do Bitcoin? Trata-se de uma moeda sem país. Assim, não há fluxo comercial, inflação, taxa de juros, situação política, nada que possa ser usado para a sua precificação com base em fundamentos. Não conseguimos avaliar se o Bitcoin está caro ou barato nem mesmo com base em seu histórico, que é muito curto.
O que resta para precificar o Bitcoin e outras criptomoedas? O fato de sabermos que sua quantidade é limitada, e torna-se mais e mais difícil gerar bitcoins na medida em que se vai chegando a este limite. Então, como a oferta é limitada e a demanda, em tese, ilimitada, o preço do Bitcoin tende a subir indefinidamente com o tempo. Trata-se de um argumento puramente de fluxo, que é, como vimos acima, o segundo motivo para os movimentos dos preços de um ativo.
Sendo assim, o Bitcoin tem no fluxo o único fundamento para os seus preços. É a lógica do “mico preto”: as pessoas compram bitcoins hoje porque têm esperança de que, no futuro, alguém os comprará a um preço mais alto. Dizem os mais céticos que o mercado financeiro é todo assim: pessoas procurando ativos que possam ser repassados mais adiante a preços maiores. Em termos. O investidor que, por exemplo, compra ações, certamente tem esperança de poder vende-las mais caras no futuro. Mas também está comprando uma fração de uma empresa, que tem potencial de geração de lucros e pagamento de dividendos. No limite, estes dividendos são o motivo da precificação de uma ação, que deveria valer o fluxo de todos os dividendos futuros, trazidos a valor presente. Nada disso ocorre com o Bitcoin.
Pode acontecer de, no futuro, o Bitcoin ser aceita verdadeiramente como meio de troca preferencial para certos tipos de mercadorias e serviços, como por exemplo, aqueles negociados no mundo digital. Se isso acontecer, poderá haver uma demanda constante pela moeda, sustentando os seus preços. No entanto, isto está longe ainda de ser certo. Trata-se de uma aposta.
Enfim, minha conclusão: o Bitcoin é um investimento altamente arriscado, e não se pode dizer, hoje, se está caro ou barato, simplesmente porque não há fundamento por trás de seus preços. Outras criptomoedas podem ou não seguir o caminho do Bitcoin, pois cada criptomoeda tem seu próprio ambiente de desenvolvimento e suas próprias funções. Assim, a sua valorização (ou não) é incerta. Meu conselho, nestes casos, segue o que sempre diz Warren Buffet: só compre negócios que você entenda. Se você entende como funciona o Bitcoin e outras criptomoedas e conhece seus riscos, siga em frente, tendo sempre em mente que se trata de um negócio bastante arriscado. Se você não conhece, ou não gosta de riscos elevados, resista ao canto das sereias. Conheça e respeite seus próprios limites. Esta é a melhor forma de investir no longo prazo.
O que falar do atual momento? É hora de comprar na baixa ou esquecer o bitcoin? São muitas incertezas… Por enquanto, ainda prefiro não entrar nesse mercado. Parabéns pelo post!
Prezado Ricardo, sobre bitcoin não dou palpite! Abraço!
Estou vindo do Futuro para dizer que sim, BTC estava muito barato! hehehe
Sim, há pessoas que ganham dinheiro no cassino de vez em quando.