Bomba populacional e aposentadoria
O termo “bomba populacional”, desde os tempos de Malthus, sempre foi utilizado no sentido de aumento descontrolado da população. O último relatório das Nações Unidas, World Population Ageing, não deixa margem a dúvidas: o problema agora é o envelhecimento da população, causado, por um lado, pelo declínio da taxa de fertilidade, e por outro, pelo aumento da expectativa de vida em todas as regiões do planeta. O relatório afirma que o número de idosos (acima de 60 anos) deve ultrapassar o número de crianças (abaixo de 15 anos) até 2045. Nas palavras do relatório da ONU, “um processo sem paralelo na história da humanidade”. Além disso, o processo de envelhecimento da população, ainda de acordo com o relatório, é mais rápido nos países em desenvolvimento, Brasil incluído.
E agora, o mais preocupante do ponto de vista da sustentabilidade deste processo. Existe um índice, o Potential Support Ratio (PSR) ou Índice de Potencial de Suporte, que mede o número de pessoas entre 15 e 60 anos em relação ao número de pessoas acima de 60 anos de idade. Ou seja, quantas pessoas em teoria na ativa existem para sustentar cada idoso. O PSR recuou de 12 para 9 entre 1950 e 2009. Projeta-se para 2050 um PSR de apenas 4. Ou seja, cada vez menos trabalhadores para sustentar cada aposentado.
Corta para um outro fato: a Previdência Social brasileira fechou o ano de 2009 com déficit de quase R$ 43 bilhões, ou 1,4% do PIB. Pode-se discutir os critérios, se os vários assistencialismos embutidos sob a rubrica “Previdência” deveriam ser considerados nesta conta, ou se existem fraudes, etc. Um fato, no entanto, é inegável: não há como 4 trabalhadores sustentarem um aposentado durante 22 anos (diferença entre 60 e 82 anos, que é a expectativa de vida de uma pessoa que chega a 60 anos, ainda segundo o relatório). Será necessário, inexoravelmente, aumentar o PSR. E as únicas formas de fazê-lo serão aumentar a taxa de fertilidade (difícil) e/ou aumentar a idade em que uma pessoa é considerada idosa. Portanto, aumentar a idade para aposentadoria.
O mundo hoje (Brasil incluído) está vivendo o chamado “bônus populacional”: a queda forte da taxa de fertilidade, com uma grande parcela da população ainda em idade produtiva, dá um fôlego de algumas décadas antes que a crise do envelhecimento populacional se instale. Este é o tempo que temos para fazer uma reforma do sistema de previdência que, em última análise, deverá aumentar a idade para requerer a aposentadoria. Caso não se consiga condições políticas para realizá-la, faltará recursos mais à frente. Poderá, então, haver um calote por parte do INSS (pouco provável) ou o sistema deverá se financiar de outra forma. Este financiamento pesará sobre o orçamento da União, retirando recursos de outras áreas, como educação, segurança, etc. A dívida pública deve aumentar, diminuindo a capacidade do Estado de investir, aumentando as taxas de juros e, provavelmente, a inflação. Enfim, um quadro nada animador.
Ganha cada vez mais importância a capacidade de poupança privada para a aposentadoria. Para quem tem 25 anos de idade, e pretende aposentar-se com 60 anos, ou seja, em 2045, deveria pensar seriamente em começar hoje um planejamento de longo prazo. Aposentadoria é assunto de jovens. Quanto antes se começa, menos pesado fica ao longo do tempo. Voltaremos a este assunto oportunamente.
Tenho 45 anos e decididamente não conto com a previdência pública. Aliás, não conto também com o serviço público de saúde e sou contra políticas assistencialistas, que resolvem um problema criando outro (por exemplo, criando cotas em universidades e vitimando quem teve o azar de nascer pobre e branco ou defendendo o aborto em nome do direito da mulher mas atropelando com um trator o direito do infeliz do feto).
Assim sendo, solenemente viro as costas para o Estado neste ponto – nada espero destes caras, que nos últimos 8 anos só fizeram inchar e inchar.
A saída foi empreender. Usar a capacidade de pegar um assunto, estudar, transformar a coisa em um produto vendável de consultoria e sair por aí tentando criar valor para clientes. E, se não tivesse tal capacidade, iria fazer algo como produzir empadas (o que aliás trouxe fortuna para um certo empresário do ramo que começou com um trailer na Sena Madureira).
Em suma: este negócio de aposentadoria bancada pelo Estado foi como o Socialismo – uma utopia do século XX que não deu certo.