Que venha 2014!
Mais um ano se passou, mais um ano se inicia. O ser humano é o único animal que conta o tempo e fecha ciclos. O final do ano é o momento em que todos param e pensam em suas vidas. A virada do calendário é um alerta de que o tempo passa. Para todos.
Todos se angustiam com a passagem do tempo. Alguns disfarçam, outros não. Ontem éramos crianças. Hoje somos jovens, ou adultos, ou velhos. Reencontramos uma pessoa que há muito não víamos, e pensamos: “como envelheceu!”. E este pensamento volta como um bumerangue: “como envelheci!”. Lançamos mão do socialmente correto “você não mudou nada!” para não ceder à dura realidade: o tempo passa. Para todos.
O tempo não só passa. A passagem do tempo se acelera ao longo dos anos. Um ano demora muito a passar para uma criança. Para um adulto, um ano passa num piscar de olhos. E esse piscar é cada vez mais rápido.
A virada do ano quebra a monotonia da passagem dos dias. Acordar, comer, trabalhar, divertir-se, dormir. Esta rotina, do berço ao cemitério, é questionada, na virada do ano, pelos homens sãos. Afinal, qual o sentido disso tudo? O ser humano é um animal em busca de sentido.
Este é um blog sobre economia e finanças. Basta ler os posts para sacar que sou insuspeito do crime de não gostar de dinheiro. Mas viver para ganhar dinheiro não parece ser um sentido da vida que faça sentido. Caixão não tem gaveta, já dizia a minha avó. Há, muitas vezes, uma preocupação excessiva por ganhar dinheiro com investimentos, quando a preocupação deveria ser para que vai servir aquele dinheiro. Desculpem-me ser óbvio: dinheiro é um meio, nunca um fim em si mesmo.
Aliás, o mesmo vale para os dias, os meses, os anos. O tempo é um meio, não um fim em si mesmo. A grande angústia do ser humano é que o tempo escorre por entre os dedos, e não há nada que se possa fazer a respeito. O tempo é como o dinheiro: é preciso usá-lo com sabedoria, e não apenas empilhá-lo. O objetivo da vida deve ser, ou deveria ser, algo que transcende o tempo e o dinheiro. Algo que cada um deve descobrir, em uma resposta pessoal, intransferível. No final do dia, ou da vida, cada um é dono do seu próprio destino.
Um Feliz 2014 para cada um de vocês!
Feliz 2014 atrasado! Final de ano, tempo para refletir e descansar um pouco, inclusive das nossas discussões…rsrsrsrs
Este janeiro li um livro chamado 10 bilhões de Stephen Emmott (diretor do departamento de pesquisa em ciências da computação da Microsoft), e após uma larga reflexão, resolvi capitular e me dar por vencido. Isto mesmo, passarei a concordar com suas posições. Adeus discussões sobre socialismo econômico ou capitalismo selvagem!
Por quê? Vou me utilizar de uma pequena história, e na conclusão, após analisar todas as alternativas, vejo que o capitalismo selvagem é disparadamente a melhor!
3 pessoas sofreram um acidente de avião, André (A), Bruno (B) e Carlos (C). André, muito rico, resgatou os 3 milhões de dólares que levava, Bruno, uma mochila com mantimentos e Carlos duas mochilas com mantimentos. Após chegarem em uma ilha deserta, e serem providencialmente agraciados com um telefone via satélite levado providencialmente pelo mar, descobrem que o socorro só chegará com 4 semanas! Bruno respira aliviado, pois sua mochila tem mantimentos para sobreviver uma semana, André se encontra em desespero, pois tem apenas o dinheiro, e Carlos vê que terá mantimentos de sobra. Desfecho desta história
1) Visão cristã – Carlos dá uma mochila para André, sem pedir nada em troca!
2) Visão socialista/comunista – André, Bruno e Carlos se reúnem, dividem o dinheiro, 1 milhão para cada, e a mochila de alimentos, 1 para cada.
3) Visão Capitalista – Carlos vende uma mochila de mantimentos pelos 3 milhões de dólares para André. Agora Carlos tem 3 milhões, André e Bruno apenas uma mochila de comida!
4) Visão Capitalista selvagem – Carlos vende 3/4 de uma mochila de mantimentos pelos 3 milhões de dólares a André! Afinal, o socorro pode demorar mais que as 4 semanas, e Carlos tem uma reserva! Além disto, com 3/4 da mochila, André, se fizer racionamento, aguenta até chegar o socorro!
5) Visão barbárie – Bruno, que é lutador de MMA, mata André e Carlos, fica com 3 mochilas de alimentos e os 3 milhões de dólares.
Transformando André, Bruno e Carlos nos 10 bilhões de habitantes que teremos em 2050, a ilha em nosso planeta Terra e o socorro os avanços tecnológicos que nos permitirão fornecer água, comida e alimentos a população, percebe-se que:
Opção 1 e opção 2 são impraticáveis
Opção 3 seria a melhor, mas com o ritmo de esgotamento da Terra, e a incapacidade dos avanços tecnológicos de garantir o mínimo necessário, ficamos apenas com as opções 4 e 5. Entre a opção 4 e 5, fico com a 4.
Hoje entendo porque apenas 85 pessoas são donas da riqueza equivalente a da metade da população mais pobre do mundo (3,5 bi de pessoas). A miséria é necessária, para que exista o Mundo. Se não existir miséria, todos os recursos naturais seriam esgotados em menos de 5 anos.
Allan, bom te ver por aqui de novo. Não sei se você está sendo irônico ou não, mas não concordo com essa visão. A miséria não é necessária. Ela é fruto de instituições fracas. Cada país colhe aquilo que suas elites plantam. Pode haver, e é natural que haja, diferenças grandes de renda entre as pessoas. Mas a miséria não é admissível. Em um mundo onde todos os países conseguissem implementar as instituições dos países mais desenvolvidos (o império da lei para todos, acesso à educação básica de qualidade para todos, possibilidade real de alternância de poder, etc), com certeza teríamos os avanços tecnológicos necessários para saciar as necessidades básicas de todos. Ainda haveria alguns bilionários, o que reputo saudável (é preciso que as pessoas possam ter o sonho de se tornarem ricas para que dêem o melhor de si), mas não haveria miséria. É isso aí!
Longe de ser irônico, aconselho a você ler o livro 10 bilhões do Stephen Emmott para entender melhor meu ponto de vista.
Neste final de ano fiz a reflexão: seria a miséria necessária? Após ler o pequeno livro acima, lembrei-me de um outro livro, Memórias Póstumas de Brás Cubas. Nele há a velha passagem de o vencedor as batatas, que peço a liberdade de aqui postar:
– Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças para transpor a montanha e e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
– Mas a opinião do exterminado?
– Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a mesma. Nunca viste ferver água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas transitórias.
Se não houver a miséria, afinal, haverá batatas para todos? Haverá hoje para 7 bilhões de habitantes, e quando formos 10 bilhões?
Fiquei pensando sobre uma parte da sua opinião, que me deixou um pouco confuso, de que a miséria seria fruto de instituições fracas! Mas não consigo compreender um estado minimalista e ao mesmo tempo com instituições fortes no combate a miséria. Porque um estado minimalista defende o controle dos gastos públicos e menos investimentos em políticas sociais, como aposentadoria, seguro desemprego, pensionistas, bolsas e etc…. Sendo assim, um dos mecanismos de mitigação da miséria (o Estado – através de suas políticas sociais), seria incapaz de fazê-lo!
Esta é uma das discussões hoje com relação ao OBAMACARE nos EUA, não é mesmo? Seria realmente possível um estado minimalista e ao mesmo tempo focado no combate a miséria?
O sonho de consumo talvez seja os países nórdicos, onde a miséria inexiste, mas onde a mão do estado é pesada!
Allan, um Estado provedor não acaba com a miséria, isso é mito. Fosse assim, os estados socialistas seriam os mais ricos, o que não é verdade. Na literatura econômica, chamamos de “instituições” os marcos regulatórios que dão segurança a todos aqueles que queiram empreender e gerar riqueza. Assim, por exemplo, a justiça igual para todos, ricos e pobres, poderosos e humildes, é uma instituição importantíssima. O império da lei sobre o império da vontade do governante de plantão. Outras instituições são o direito de propriedade, a igualdade de oportunidades (principalmente no campo da educação, saúde e saneamento básico), a estabilidade monetária (inflação sob controle). O Estado deve agir para garantir essas instituições. Programas de distribuição de renda, apesar de parecerem um alívio no curto prazo, somente perpetuam as desigualdades. O que realmente enriquece um povo é a produção, não o Estado.
No caso dos países nórdicos, sempre citados, eles atingiram um nível de renda superior muito antes de resolverem transferir para o Estado várias funções, como educação, saúde, etc. Não foi o Estado forte que os fez ricos, foram suas instituições.
Adorei ! “O tempo é como o dinheiro: é preciso usá-lo com sabedoria, e não apenas empilhá-lo.”
Que venha 2014!