O mercado financeiro não fará a lição de casa por você
João Prevenido nasceu em 1954. Em 1982, aos 28 anos de idade, João resolve começar uma poupança para a sua aposentadoria. Seu salário era de $ 25.000, e era reajustado 3% todo ano. Para fazer a sua poupança, João separava 3% de sua renda anual, e investia no mercado. Mas o João, apesar de prevenido, não era muito esperto: ele acabou escolhendo fundos de investimento que estavam entre os 25% piores da indústria, de acordo com um ranking de rentabilidade dos últimos 3 anos (de 1979 a 1981). Ano após ano, ele sempre investia 3% de sua renda nesses mesmos fundos: 30% em fundos de ações e 70% em fundos de renda fixa. Em 2011, 29 anos depois, com 57 anos de idade, ele conseguiu acumular uma poupança de aproximadamente $ 136.400.
Este caso fictício é o caso-base para um estudo muito interessante do diretor de pesquisa do Putnam Institute, W. Van Harlow (veja estudo completo aqui). Neste estudo, Harlow conclui que é melhor economizar mais do que procurar os melhores investimentos. Para isso, ele parte deste caso-base, e estuda três variantes, sempre usando fundos de investimento efetivamente disponíveis para aplicação:
1. Ao invés de escolher os piores fundos em 1982, o João Prevenido escolheu os 25% melhores fundos a cada 3 anos. Depois de 29 anos, ele teria acumulado $ 166.200.
2. Mantendo a escolha inicial de fundos, Harlow supôs um mix diferente: 80% em fundos de ações e 20% em fundos de renda fixa. A poupança final foi de $ 159.200.
3. Ao invés de uma estratégia buy-and-hold, Harlow rebalanceou a carteira trimestralmente. O resultado final foi praticamente o mesmo do caso-base: $ 138.464.
Agora vem a surpresa: se, ao invés de economizar 3% de seu salário, o João Prevenido tivesse investido 4% nos mesmos fundos da caso-base acima, a sua poupança em 2011 seria de R$ 181.800! Ou seja, todas as tentativas de procurar aumentar a rentabilidade ficaram miseravelmente para trás quando comparadas com o simples aumento de um ponto percentual no montante poupado.
Esta conclusão tem tudo a ver com o post que publiquei aqui alguns dias atrás, Os juros baixos e a dificuldade em aceitar a realidade, em que defendo que os investidores deveriam estar mais preocupados em aumentar o montante poupado, do que em aumentar o risco de suas carteiras. Apesar do retorno dos investimentos, no longo prazo, jogar um papel importante na acumulação de recursos, nada substitui o esforço de poupar. Este sim, é decisivo para a acumulação de uma poupança razoável no longo prazo. A mensagem é: não espere milagres do mercado financeiro. Se você não fizer a sua lição de casa, o mercado não fará por você.
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Parabéns pelo artigo Dr. Money, concordo plenamente com a ideia do texto.
Excelente artigo!