O IPO do Facebook foi um fracasso?
O IPO mais aguardado dos últimos tempos finalmente aconteceu: o Facebook vendeu cerca de 15% de seu capital para investidores, levantando aproximadamente US$ 16 bilhões, o que significa que agora, oficialmente, o Facebook vale algo como US$ 100 bilhões. Grosso modo, o mercado está pagando cerca de US$ 110 para cada um dos mais de 900 milhões de usuários da maior rede social do planeta.
Sob qualquer ângulo que se olhe, trata-se de um portento. Por exemplo, com esse valor de mercado, o Facebook tem o mesmo tamanho em bolsa que empresas como Pepsi e Unilever. Nada mal para uma empresa que existe há menos de 10 anos. Outro gigante da Internet, o Google, que abriu o capital em 2004, vale pouco menos do dobro.
Mas quem leu os jornais do dia seguinte ao IPO, teve a impressão de que a operação foi um fracasso. E por que? Porque as ações da empresa terminaram a sessão daquele dia com uma alta de apenas 0,6%. Essa valorização compara-se com a alta de mais de 100% do Linkedin e de 30% do Groupon no primeiro dia de negociação. Mas foi mesmo um fracasso? Depende do ponto de vista.
Do ponto de vista de quem comprou as ações no IPO, foi. Quem entra em um IPO, normalmente espera uma valorização rápida das ações. Ou, visto de outra forma: a avaliação de uma ação que não tem negociação em bolsa envolve o risco do desconhecido e, por isso, o potencial comprador tende a atribuir um desconto para entrar na oferta. Claro que o investidor de primeira hora ainda pode ter muito lucro com a ação. Mas o que a primeira sessão de negociações mostrou é que, aparentemente, a empresa estava sendo negociada próxima do seu valor intrínseco (os dois pregões seguintes mostraram que a coisa não é bem assim; mas depois voltamos a este ponto). E aqui vem o grande ganhador desse IPO: Mark Zuckerberg.
A grande arte de qualquer IPO é tentar vender todas as ações ofertadas pelo máximo preço possível. O fato do Linkedin ter dobrado de preço no primeiro pregão deve ter deixado um gosto amargo na boca da administração da companhia: teria sido possível conseguir o dobro de dinheiro para o caixa da empresa e para os investidores que venderam as suas ações no IPO. No caso do Facebook, pelo contrário, o primeiro pregão mostrou que a administração acertou no preço da colocação. Quase na mosca. O gosto amargo ficou com os investidores que participaram do IPO. É o risco, um velho conhecido de qualquer investidor.
Cabe aqui uma palavrinha sobre IPOs. Os coordenadores da operação sempre vão tentar convencer você de que se trata de uma oportunidade única. A grande verdade é que é muito difícil saber se o preço do IPO é justo. Se mesmo com a ação sendo negociada é difícil saber se o preço é justo, imagine apreçar uma empresa que nunca foi negociada em bolsa. Por isso, IPO é coisa para profissionais. Claro que pode ser difícil resistir à tentação. Afinal, pode ser a sorte grande! É praticamente impossível um papel que já está sendo negociado em bolsa subir 10% em um dia. Mas isso não só é possível, mas é até esperado, quando se trata de IPOs. Se fosse assim tão fácil… Veja na tabela a seguir uma lista dos IPOs brasileiros dos últimos 3 anos, com os seus preços de lançamento e o preço médio do dia seguinte:
Note como não há uma regra. Portanto, não conte com a sorte grande ao se aventurar na selva dos IPOs. Para terminar, copio a seguir uma carta hipotética de Mark Zuckerberg que recebi por e-mail. Mostra um pouco porque a ação já caiu cerca de 20%, três dias depois do IPO. Bom divertimento!
Dear Potential Investor:
For years, you’ve wasted your time on Facebook. Now here’s your chance to waste your money on it, too.
Tomorrow is Facebook’s IPO, and I know what some of you are thinking. How will Facebook be any different from the dot-com bubble of the early 2000’s?
For one thing, those bad dot-com stocks were all speculation and hype, and weren’t based on real businesses. Facebook, on the other hand, is based on a solid foundation of angry birds and imaginary sheep.
Second, Facebook is the most successful social network in the world, enabling millions to share information of no interest with people they barely know.
Third, every time someone clicks on a Facebook ad, Facebook makes money. And while no one has ever done this on purpose, millions have done it by mistake while drunk. We totally stole this idea from iTunes.
With your help, if all goes as planned tomorrow, Facebook’s IPO will net $100 billion. To put that number in context, it would take JP Morgan four or five trades to lose that much money.
One last thing: what will, I, Mark Zuckerberg, do with the $18 billion I’m expected to earn from Facebook’s IPO? Well, I’m considering buying Greece, but that would still leave me with $18 billion.
Friend me,
Mark Zuckerberg
P.S.: Like me on Facebook!
Ademais, os IPO’s recentes, mesmo com preços de prospecto inicialmente superestimados, apresentam uma regra interessante: eles estão saindo a preços bastante descontados com a regra que é determinada pela demanda dos institucionais. Veja o caso da UCSA.
Entrei em alguns (a maioria), com a seguinte regra. Leio o prospecto, planilho os principais números e vejo se gosto do setor. Se no primeiro dia bombar, eu saio fora. Caso contrário, fica na carteira. Como você demonstrou, não tiveram grandes desempenhos. Mas, desde o IPO, as empresas estão performando bem. Da sua lista:
a) que ficaram na carteira e performara/performam bem depois do IPO (descontado o risco sistêmico):
TIVT ( que já fechou o capital, com lucro), CTIP, FLRY, MILS, DROG (na sua tabela é oferta secundária, não deveria estar), AUTM, ARZZ, ABRE.
b) flipados: UCSA.
c) Que achava interessante, não comprei e me arrependo:
Qualicorp, Technos. Shoppings performaram bem, mas já tinha Multiplan.
A história mais uma vez se repete. Milhares de pessoas investem seu dinheiro em algo, atraídas mais pela deslumbre do que pela realidade. Quem ganha com isso tudo é o emitente das ações. E a história se repetirá diversas vezes no futuro.
Abraços
interessante