Inflação, o debate do momento
A inflação é o assunto do momento. Com o anúncio do último IPCA-15 (IPCA referente ao período que compreende a última quinzena de março e a primeira quinzena de abril), o índice acumulado em 12 meses atingiu o patamar desconfortável de 6,44%. Ou seja, bem perto do teto da meta de inflação, que é de 6,5%. Ao mesmo tempo, o BC decidiu, na última reunião do COPOM, diminuir o ritmo de aumento da taxa SELIC para 0,25% (lembrando que os dois últimos aumentos foram de 0,50%). A SELIC hoje vale 12,00% ao ano. Alguns dizem que o BC está atrasado: a inflação não vai voltar para a meta em 2012 (no último Relatório de Inflação, o BC jogou a toalha no que se refere à inflação de 2011, e prometeu convergência para a meta de 4,5% em 2012). Para outros, as medidas já implementadas são suficientes para que a inflação convirja para a meta em 2012.
Diante disso tudo, o que pensar?
A meu ver, o mais importante nessa discussão é que, aparentemente, todos os debatedores têm um ponto em comum: todos concordam que a inflação deve voltar para a meta de 4,5%. Até agora, não vi ninguém, por mais heterodoxo que fosse, defendendo que “um pouco mais de inflação não faz mal a ninguém”. Faz sim, principalmente para os mais pobres. Ter consenso neste ponto já é um grande avanço! A discordância está no tipo de remédio utilizado para baixar a febre do paciente. Antes de avançar, vejamos o gráfico a seguir:
Neste gráfico, mostro a relação entre as expectativas de inflação (de acordo com o relatório FOCUS) e as decisões do BC em relação à taxa Selic. O período do gráfico (2005 para frente) coincide com o período em que a meta de inflação é de 4,5%. Note que as expectativas de inflação 12 meses à frente raras vezes ultrapassaram 5,5%, o que mostra o sucesso do sistema. Além disso, o BC claramente reage às expectativas: quando essas se descolam para cima, ele começa a subir a Selic, e vice-versa.
Agora, a má notícia: as expectativas já vêm trabalhando neste patamar de 5,5% desde novembro do ano passado. Ou seja, há quase 6 meses. Aparentemente, os agentes “ancoraram” suas expectativas neste novo patamar, apesar do BC ter iniciado a elevação da SELIC há já um ano. Parece que estão “aguardando” os próximos movimentos do BC.
E é neste ponto que divergem as duas correntes de opinião que se digladiam neste momento: para uns, o BC deveria mostrar firmeza, e subir mais a taxa Selic, para mandar um sinal claro para a sociedade de que está a fim de cumprir o prometido: trazer a inflação para a meta em 2012. Para outros, o BC já subiu bastante a taxa Selic (3,25% desde abril do ano passado), e conta com outros instrumentos para a tarefa: medidas macro-prudenciais, ajuste fiscal e a torcida pelo recuo dos preços das commodities agrícolas.
Um dos dois lados está errado, e veremos quem ao longo dos próximos 18 meses. Como o BC aparentemente já tomou partido pelas medidas “alternativas”, e não deve pesar a mão na taxa SELIC, resta-nos (a nós, a sociedade) rezar para que os ortodoxos estejam enganados. É o tipo de risco que o Brasil não merecia estar correndo nesta altura do campeonato.
As ações de combate à inflação estão mais tímidas e acanhadas do que uma donzela medieval. Pois eu metia 4 pontos percentuais na SELIC de uma única vez e estrangulava o crédito, para conter a burrice financeira da classe média emergente ("tudo o que sobe, desce, cuidado!).