É hora de aplicar na bolsa?
Artigo originalmente publicado no jornal Valor Econômico
A bolsa está no mesmo nível de quase três anos atrás. Depois da recuperação espetacular de 2009, o Índice Bovespa vem trabalhando na faixa de 60 a 70 mil pontos desde o início de 2010. E não parece ter força para retomar a alta. É lícito, então, perguntar: é hora de aplicar na bolsa?
Para tomar essa decisão, dois aspectos são importantes. O primeiro tem a ver com a natureza da bolsa e os objetivos do investidor. O segundo, com a tentativa de acertar o momento de entrar (ou sair) do mercado.
Para começar, vejamos o que a bolsa não é. A bolsa não é um cassino, ou a loteria esportiva, em que as pessoas podem, se derem sorte, multiplicar seu dinheiro do dia para a noite. A bolsa é, antes de tudo, uma oportunidade de se tornar sócio de empresas e participar de seus lucros no longo prazo. Por isso, o investimento em bolsa é de longo prazo e se ajusta à perfeição ao objetivo de construir uma poupança para a aposentadoria.
Assim, devem evitar a bolsa investidores que precisarão dos recursos no curto prazo; e devem procurar a bolsa investidores com objetivos de investimento de mais longo prazo. Simples assim. O montante a ser aplicado na bolsa dependerá da aversão ao risco do investidor. Mas para um objetivo como a aposentadoria, em que o prazo se conta em décadas, a bolsa deve fazer parte da carteira de qualquer investidor, mesmo os mais conservadores.
Com essa regra geral em mente, podemos partir para o segundo ponto: o momento certo de entrar na bolsa. Para responder a essa questão, é preciso ter em mente a única verdade universal do mundo dos investimentos: o futuro é incerto. Isso significa que ninguém sabe o que vai acontecer amanhã, ou daqui a um mês, ou mesmo daqui a um ano, por mais convicção que se tenha sobre o futuro.
Se o futuro é incerto, tentar prevê-lo pode ser, na melhor das hipóteses, inútil, e na pior, um desastre. Vejamos uma estatística que poderá nos ajudar a entender melhor esse ponto. Digamos que um investidor disciplinado tenha aplicado na bolsa há 15 anos, sem resgatar em nenhum momento. De fevereiro de 1996 a janeiro de 2011 o Ibovespa rendeu 1.192%, ou aproximadamente 18,60% ao ano – e essa teria sido a rentabilidade desse investidor.
Vejamos agora um outro investidor, um pouco menos disciplinado, e que tentou acertar o momento de sair e voltar para a bolsa. Esse segundo investidor tirou o seu dinheiro da bolsa no dia 14/01/1999, em meio à crise cambial brasileira, depois da bolsa ter caído mais de 25% no mês, e estava claro que tudo estava perdido. Esse investidor, portanto, ficou fora da bolsa no dia 15/01/1999, quando o Ibovespa subiu 33,4% e, arrependido, voltou para a bolsa para não mais sair. Infelizmente, pelo fato de ter ficado fora da bolsa neste único dia, a rentabilidade acumulada neste período de 15 anos caiu para 869%, ou 16,34% ao ano.
Um terceiro investidor, ainda mais azarado, tentou adivinhar o melhor momento de sair e voltar para a bolsa, e ficou fora dos 10 melhores pregões desse período de 15 anos. Sua rentabilidade final foi de apenas 247%, ou 8,64% ao ano. Ou seja, ficando fora da bolsa em apenas 10 dias (0,3% do período de 3.713 pregões), a rentabilidade anualizada caiu pela metade! Esse é o risco de tentar acertar o melhor momento para entrar e sair da bolsa. Obviamente, um investidor com mais sorte poderia ter acertado os melhores dias para sair da bolsa, mas aí já estamos no campo dos jogos de azar, e não do de investimentos.
Assim, e respondendo à questão inicial, este é o momento de entrar na bolsa para todos aqueles que têm um objetivo de longo prazo para os seus investimentos, e não é um bom momento para entrar na bolsa para todos aqueles que precisarão dos seus recursos no curto prazo. É preciso que o investidor analise sua situação pessoal e seu objetivo de investimento. Acerta na bolsa aquele que faz a sua lição de casa.
Crédito do thumbnail: Free Digital Photos by Phaitoon.
Seja o primeiro a comentar!