Os ajustes contracíclicos do seu orçamento
A Europa está em chamas. Em alguns lugares, como a Grécia, literalmente. Tudo isso causado pelos programas de austeridade draconianos impostos pelo FMI, União Europeia e Banco Central Europeu (a chamada “Troika”) para que os países endividados façam jus à ajuda financeira recebida.
Estes programas de austeridade não foram impostos à toa, por um capricho da Troika. Imagine-se você com um cunhado (sempre ele!) que está endividado até as tampas. Ele te pede um dinheiro emprestado para rolar as suas dívidas. Qual a sua atitude? Bem, você vai querer saber quais são suas chances de receber o dinheiro de volta, certo? No mínimo, vai querer saber se as condições que geraram aquele rombo estão sendo resolvidas. O que significa, na maior parte das vezes, vender bens e diminuir consumo. Caso contrário, a chance de seu suado dinheirinho ser sugado por um buraco negro não é desprezível.
Pois bem, o mesmo raciocínio está por trás dos programas de austeridade impostos à Grécia, Portugal, Irlanda, Itália, Espanha. Há, no entanto, uma corrente do pensamento econômico que defende o oposto: neste momento, seria preciso adotar medidas de incentivo ao crescimento, aumentando os gastos governamentais, e não os diminuindo. Segundo esta corrente, esta seria a única chance real dos credores verem o seu suado dinheirinho de volta. Programas de austeridade seriam contraproducentes, ao diminuírem o crescimento no curto prazo e, consequentemente, piorando os indicadores de solvência, todos eles medidos em relação ao tamanho do PIB. São as chamadas medidas contracíclicas. Quando tudo vai bem, o governo economiza para os tempos das vacas magras. Quando tudo vai mal, gasta a poupança acumulada.
Tudo muito bonito, não fosse o bichinho da ganância, que contamina todo ser humano. Como vimos na Teoria do Gás, os gastos tendem a ocupar todo o espaço do orçamento, independentemente do tamanho do orçamento. É só uma questão de tempo. O ajuste contracíclico exigiria a revogação da Teoria do Gás. Imagine você recebendo um aumento de, digamos, 50% no seu salário. Qual seria a sua atitude? Guardar para o tempo das vacas magras, ou gastar como se não houvesse amanhã?
A segunda opção foi a adotada por Grécia, Portugal, Espanha e etc. A adoção do Euro significou um aumento de renda do dia para a noite, pois as taxas de juros cobradas eram muito menores do que nas moedas originais, além dos investimentos vindos de fundos de compensação. Guardar para um futuro de vacas magras? Mas qual o quê! Em reportagem do Estadão neste domingo (Obras imponentes, época de excessos), ficamos sabendo, por exemplo, dos excessos a que se entregou a Espanha nos anos do milagre econômico. Este é só um exemplo, entre tantos.
Por isso, você só vai ouvir falar de políticas contracíclicas em tempos de recessão. Em tempos de bonança, as políticas, via de regra, serão pró-cíclicas. Não que as políticas contracíclicas estejam incorretas. Seria muito bom ter espaço para adotá-las. No entanto, é preciso combinar com os credores. É necessário que estes tenham paciência e, sobretudo, confiança de que aquele dinheiro extra que está sendo pedido será pago de volta. Infelizmente, a paciência dos credores costuma ser bastante curta, principalmente com aqueles países e indivíduos que mais precisam de crédito.
A Teoria do Gás não é inevitável. É possível, ainda que difícil, guardar dinheiro em momentos de bonança. Para isso, é preciso criar alguma regra que discipline a poupança. Por exemplo, guardar compulsoriamente 10% de toda a sua renda, de preferência em alguma aplicação automática. Esse dinheiro, para todos os efeitos, não existe no seu orçamento. Assim, você “dribla” a Teoria do Gás, e não se sente culpado toda vez que vai gastar dinheiro. No tempo das vacas magras, você terá feito uma poupança, e poderá adotar as medidas contracíclicas no seu próprio orçamento.
“Para isso, é preciso criar alguma regra que discipline a poupança” Ela já existe e se chama taxa de juros. Sem intervenção governamental, juros altos significam pouca poupança. As pessoas são incentivadas a gastar menos e poupar mais. Conforme a poupança aumente, os juros caem e o consumo aumenta.
Isso só não funciona quando governos querem estimular a economia manipulando a taxa de juros. Dá sinais errados ao mercado e cria coisas como baixa poupança e alto consumo. Terreno aberto para formação de bolhas.
Concordo plenamente, Juliano.
Interessante e muito bem explicada a sua análise. O difícil é encontrar um meio termo entre cíclico e anti-cíclico. Se sacrificar demais os credores, o risco de calote aumenta proporcionalmente. Porém quanto maior o risco que um credor representa, maior a ganância de quem empresta.
O problema é que toda vez que arrocham a Europa, os movimentos ultra-direitistas e de cunho racista proliferam. E já sabemos onde esta linha de raciocínio levou o mundo (duas guerras).
O outro problema é mais sério. Se a CE é um bloco, tem de tomar decisões como um. Ou então é melhor acabar com a CE e cada um ir para o seu canto. Só que a Alemanha se beneficia com a existência do bloco econômico e de livre comércio da CE, pois com sua máquina hegemônica exportadora indiretamente minou as outras economias Européias. Agora com as vacas magras, a Alemanha quer manter a CE, mas não quer abrir os cofres para mantê-la. Cabe a Alemanha decidir se a CE é realmente um bloco ou um amontoado de tijolos.
só contando os dias pra saída da Grécia do bloco e imaginando como ficará o bloco após isso.
a questão da dívida toda em Euro, como fica?
outros seguirão a Grécia?
o bloco sobreviverá?
Tetzner – Os Segredos de um Investidor de Sucesso
http://www.bookess.com/read/12523-os-segredos-de-um-investidor-de-sucesso/