A fórmula Benson & Hedges da Felicidade
Quem tem a minha idade, certamente se lembra de um anúncio do cigarro Benson & Hedges (na época em que fumar era chique). Todo glamuroso, com iates, carrões e mulheres bonitas, sempre terminava com a mensagem: “Dinheiro não traz felicidade. Manda buscar”. Não sei bem porque, mas anúncio de cigarro sempre tinha uma mensagem assim, meio… cafajeste. “Ao sucesso, com Hollywood”, “O importante é levar vantagem em tudo, certo?”. Bem, estou fugindo do tema.
Há pouco mais de um mês, deparei-me com o artigo que reproduzo abaixo, e que traz justamente essa discussão: dinheiro traz a felicidade? Ou, de outra forma: rico é mais feliz que pobre? Matthew Shirt, neste artigo interessantíssimo publicado no Estadão em 12/04 último, cita vários estudos mostrando que não há relação direta entre riqueza e felicidade (o que quer que a palavra “felicidade” signifique).
Você concorda com isso?
Eu tenho minha teoria, não comprovada por nenhum estudo empírico: a felicidade é um estado de espírito, que depende mais da disposição interior do indivíduo do que das condições externas. Lembro de uma piada do Juca Chaves, em que ele descreve como dois irmãos, um otimista e outro pessimista, recebem seus presentes de Natal. O pessimista ganha uma bicicleta linda, último modelo, etc e tal. E reclama: “Que desgraça, vou cair dessa porcaria, quebrar a perna e passar três meses com gesso. Além disso, não era da cor que eu queria. E só tem 10 marchas!!!”. O otimista ganhou uma lata com estrume. Ao ser perguntado pelo irmão sobre o que ele havia ganhado de presente, o otimista respondeu: “Um cavalo! Você viu ele por aí?”
É isso aí. Boa leitura!
Alegria é a prova dos noves, escreveu Oswald de Andrade, no Manifesto Antropófago, ainda na década de 1920, lembro-me enquanto leio uma resenha na revista New Yorker de 22 de março dedicada a estudos da felicidade. Talvez tenha sido ele o primeiro crítico do economicismo, se você me permite um neologismo. O dinheiro não é tudo, em outras palavras. Preciso voltar ao velho e bom modernista, penso. O mais selvagem de todos, dos brasileiros, ao menos. Poucos conseguem colocar tanto brilho em tão poucas palavras. Sou fã, sobretudo, dos dois manifestos, o Antropófago e o da Poesia Pau-Brasil.
A resenha da New Yorker é surpreendente. A autora, Elizabeth Kolbert, cita uma pesquisa de 1978, o clássico na área de “estudos de felicidade”, em que foram comparados ganhadores da loteria – de somas entre US$ 50 mil e US$ 1 milhão -, com vítimas de acidentes devastadores e outros escolhidos ao acaso na lista telefônica. Todos viviam no Estado norte-americano de Illinois (onde fica Chicago e onde morava Obama, antes de se mudar para a Casa Branca). Não existiam grandes diferenças entre seus níveis de felicidade, concluiu-se.
De 1978 para cá, outros estudos – a felicidade tornou-se um tema na academia – mostraram que entre diversas atividades associadas à alegria e ao bem-estar, como ganhar um aumento de salário, ter um filho ou mudar-se para a Califórnia, nenhuma delas teve o efeito esperado. A conclusão é que as pessoas dificilmente conseguem saber o que as tornarão felizes.
Isso vale para os Estados Unidos, onde, dos anos 50 para cá, a renda per capita dobrou, mas os níveis de felicidade se mantiveram estáveis. Em um livro recente, The Políticas of Happiness, o autor Derek Bok, ex-presidente da Universidade Harvard, leva os resultados desses estudos às conclusões lógicas e pergunta: por que trabalhar tanto e elevar tanto o PIB, a um custo altíssimo em termos pessoais e ambientais, se isso não nos traz felicidade? Na economia mais capitalista do mundo, questionar a utilidade do crescimento é uma atitude radical, diga-se de passagem.
Mas não é só nos Estados Unidos que esse tipo de crítica vem sendo elaborada. Em anos recentes, escreve Kolbert, os estudos de felicidade se internacionalizaram. Cita, por exemplo, o livro Happiness Around the World: The Paradox of Happy Peasants and Miserable Millionaires (Oxford), de Carol Graham. Ou seja, Felicidade ao Redor do Planeta: O Paradoxo de Camponeses Alegres e Milionários Miseráveis. A autora nota que, em quase todo lugar, os ricos tendem a se sentir um pouco melhor com suas vidas do que os pobres. Mas nem essa pequena diferença vale entre culturas diferentes. Os nigerianos, por exemplo, se consideram tão felizes quanto os japoneses, embora ganhem, em média, 25 vezes menos. A satisfação pessoal dos naturais de Bangladesh, os bengalis, é o dobro da dos russos, quatro vezes mais ricos. Os panamenhos são duas vezes mais felizes que os argentinos, ganhando a metade.
As pesquisas de Graham na América Latina apontam, ainda, que os pobres da região – “the very poor”, no original – tendem a ser “impressionantemente alto-astral”. Esses resultados poderiam levar a questionamentos morais duvidosos. Do tipo: por que combater a pobreza, se os pobres são felizes?
Mas não é essa a conclusão do ensaio de Kolbert. A primeira delas é que é preciso mudar a maneira de medir riqueza, dando peso maior à satisfação das pessoas. O consumo não é tudo. Como diz o ganhador do Prêmio Nobel de Economia, Amartya Sem: “Trânsito parado pode até aumentar o PIB, em função dos gastos maiores com combustível, mas não o bem-estar.” E também, que a felicidade tampouco é tudo. Argumenta ela, falando do caso americano, que destruir o planeta e explorar os pobres seria errado, mesmo que tivéssemos curtido o processo ao longo dos últimos 50 anos. Dá o que pensar.
FLAGRANTES DE BURRICE FINANCEIRA
Eu adoro os burros financeiros… Sempre adorei… Eles nos brindam com pataquadas espetaculares, pantomimas invejáveis e palhaçadas capazes de desbamcar um Arrelia.
Cito abaixo dois exemplos reais (só os nomes são fictícios, para evitar maiores constrangimentos).
ATO 1 – Zé, no último ano da faculdade, conseguiu um bom estágio. Para ajudá-lo, o pai deu-lhe de presente um Corsa hatch usado (uma verdadeira Mercedes para pobres diabos como eu, que na época de estágio me dependurava nos ônibus pútridos da vida). Mas Zé era um jovem ambicioso, e simpatizava muito mais com um Corsa “com bundinha” (o Corsa sedan). Então, embevecido com sua nova situação financeira, Zé não vacilou: usou seu Corsa hatch como entrada e financiou um Corsa sedan zero quilômetro em inúmeras parcelas. Trocou então um carro grátis por uma dúvida, tudo em nome de uma reles “bundinha”.
Todavia, a vida às vezes prega surpresas, e Zé desafortunadamente não foi efetivado na empresa. Com a dívida na mão, correu para seu pai. Este, muito contrariado com a besteira que o filho fizera, disse-lhe que ele deveria se virar… Só restou ao coitado do Zé então desfazer-se do Corsa “com bundinha” para sanar sua dívida e ficar a pé.
ATO 2 – Mané, ao completar seu curso de Administração de Empresas em renomada instituição, começou a trabalhar e achou que era hora de sair de casa. Em uma pacata rua, ele viu um prediozinho novo que estava vendendo apartamentos pequenos. O corretor de plantão, bom de vendas, mostrou a Mané como as prestações do imóvel financiado pela Caixa cabiam no seu salário e (aqui vem a parte mais maquiavélica da história), apontando para um quadro esquemático das unidades na parede, alertou que “estava quase tudo vendido” (o tal quadro ostentava bolinhas verdes em cima dos números das unidades não mais disponíveis). Assim, para não perder a “grande oportunidade”, Mané arrematou o apartamento 13 (primeiro andar – fundos), com uma paisagem mais deprimente do que uma autópsia.
Pouco depois, Mané já estava ocupando sua nova casa e subindo uma cama de casal que mal cabia no minúsculo quarto – agora ele morava sozinho e podia levar as gatas na sua casa – yeah! Mané reparou que as muitas bolinhas verdes tinham sumido do quadro, misteriosamente, mas estava tão entusiasmado com sua “garçoniére” que nem questionou…
O resto já dá para imaginar… Logo, Mané percebeu que devia um valor maior do que valiam dois apartamentos daqueles. Sua mãe, para tentar livrar o filho do mico, foi com ele à Caixa ver se dava para simplesmente quitar aquela porcaria, e assim colocar uma pedra em cima do prejuízo. Estupefatos, mãe e filho (um dos melhores alunos de Economia da faculdade) ouviram do funcionário que “o contrato não permitia quitar a operação àquela altura”, e que portanto deveriam carregar a coisa, que àquela altura foi promovida de mico para King Kong.
Breve análise: vejam vocês do que a ambição humana é capaz – reduz estagiários felizes e yuppies promissores a panacas. Que as calamidades acima sejam alvo de profunda reflexão (e algumas risadas).